Depois de duas edições online durante a pandemia (2020 e 2021), e cinco anos desde sua última edição presencial, em 2018, a Bienal de Quadrinhos de Curitiba volta para casa, e retoma a sua essência, agora com mais amplitude e inclusão. A sétima edição do maior evento de quadrinhos do sul do Brasil acontece gratuitamente entre os dias 7 e 10 de setembro de 2023, no MuMA – Museu Municipal de Arte, no Portão Cultural.
O tema da vez é “Resistências, existências: quadrinhos e corpos plurais”. A homenageada da edição é a letrista Lilian Mitsunaga, responsável pelo letreiramento das edições brasileiras dos quadrinhos da Disney e criadora de fontes para edições brasileiras de obras de Will Eisner e Craig Thompson, entre outros. A curadoria é formada só por mulheres: Mitie Taketani, proprietária da Itiban Comic Shop; Maria Clara Carneiro, pesquisadora, tradutora de quadrinhos e professora do departamento de Letras Estrangeiras Modernas da UFSM; e Dandara Palankof, tradutora, editora no estúdio de produção editorial de super-heróis da Mythos Editora e coeditora da Revista Plaf, especializada em quadrinhos. Entre os artistas convidados e convidadas, já confirmaram presença Ilustralu, Marcelo D’Salete, Marília Marz, Ramon Vitral, Carol Ito, e Tai Silva.
Durante quatro dias, palestras, debates, exposições, oficinas, sessões de autógrafos com artistas convidados e convidadas, feira, festas e duelos de HQS vão movimentar a área interna e externa do MuMA. O evento é um dos mais tradicionais do Brasil, e a expectativa em “voltar para casa” é um ingrediente extra. “A Bienal é essa experiência ao vivo, esse encontro. E dentro dela, muitas coisas reverberam. Temos o entendimento de que a Bienal é presença, e agora vamos misturar a experiência virtual, que tivemos nas edições online, com a presencial. Vamos colocar nosso bloco na rua, com muitas ‘corpas’ para ocupar o MuMA”, diz Greice Barros, uma das coordenadoras do evento.
Para Gilmar Kaminski, também coordenador da Bienal, o ponto alto da edição também é a retomada do evento presencial. “Vamos voltar com a circulação do grande público. E seguir no objetivo de fomentar o quadrinho brasileiro, com uma diversidade de gênero, de cor, de geografia”. Para Luciana Falcon, outra das coordenadoras, a edição 2023 da Bienal é uma espécie de “condensamento de ideias”, e o evento deste ano terá uma maior capilaridade inclusive para fora do país. “A curadoria só de mulheres diz muito sobre esse período que passamos. Precisamos questionar a participação das mulheres em todos os âmbitos da vida. O Programa Brasil em Quadrinhos, depois de quatro anos e muitas iniciativas, também proporciona uma visibilidade internacional”.
Curadoria feminina
Parte importante da Bienal de Quadrinhos é a sua curadoria. A cada edição temática, um grupo de especialistas em quadrinhos (de diversas áreas) se reúne para pensar no perfil dos convidados e convidadas, nas ações e motes para debates e palestras. A edição de 2023 tem uma curadoria 100% feminina, e de luxo. A pandemia (e alguns pandemônios) impulsionaram as ideias para este encontro, que irá se desdobrar em muitos outros. “A retomada dos encontros é essencial pra manter a esperança cada vez mais viva. É num espaço de trocas como a Bienal que nascem novas reflexões e perspectivas, não só sobre aquilo a que se dedica o evento e a expressões que nos são tão caras, mas que também transbordam para nossas vivências como um todo, que nos fortalecem para todas essas outras batalhas que precisamos travar”, dizem as curadoras, em coro.
O tema da edição é “Resistências, existências: quadrinhos e corpos plurais”. O trio de curadoras explica a essência desta escolha. “O Roland Barthes escreveu que o futuro pertencerá àqueles que têm algo de feminino. Naquele contexto, o feminino seria uma resposta aos discursos de poder, centrados no patriarcado, representado pelas figuras masculinas, pela força, pela violência, e pelos valores da ‘tradição’ – que não respeita o diferente, o divergente. Nesse sentido, a gente não quer, simplesmente, olhar para as mulheres, mas para todas essas forças invisibilizadas pelo discurso patriarcal: tanto a autoria quanto as representações de mulheres (cis e trans), de pessoas não-binárias, e também das pessoas invisibilizadas pelo mesmo discurso patriarcal, como povos originários, pessoas negras, trabalhadores dos serviços marginalizados”, explicam as curadoras.
A representatividade é o ponto de partida da curadoria, e a ideia é dar visibilidade às várias manifestações artísticas do Brasil e de outros países. “É uma tentativa de expôr, por meio do convite a artistas, uma contraposição explícita a um discurso que defende o apagamento de subjetividades”, diz o trio. As convidadas e convidados serão anunciados em breve. Na última edição presencial, em 2018, foram 60 ao todo – do Brasil e de outros países.