Curitiba guarda um segredo bilionário que passa longe dos tratores e das fazendas: uma empresa localizada no bairro Campo Comprido, ocupando três andares de um prédio discreto, é responsável por liberar praticamente todo o milho que o Brasil exporta. A Intecso, empresa curitibana de tecnologia aplicada ao agronegócio, realiza as análises laboratoriais que garantem a exportação de 98% do milho e 86% da soja produzidos no país. O impacto? Uma movimentação diária de mais de R$ 1,4 bilhão.
Tudo isso só é possível graças à inovação — e ao apoio do programa Tecnoparque da Prefeitura de Curitiba, que reduziu o ISS de 5% para 2% para empresas que investem em pesquisa e desenvolvimento. Com esse incentivo e muito conhecimento, a Intecso cresceu 37% em um ano e saltou de uma equipe de 37 pessoas para mais de 100.
A mente por trás dessa revolução é a engenheira química Paula Fernandes de Siqueira Machado, CEO e fundadora da Intecso. Ex-diretora de uma fábrica de processamento de soja, ela percebeu um problema que estava custando milhões aos exportadores: as cargas ficavam até 20 dias paradas nos portos aguardando análises sanitárias. Paula criou uma solução inovadora e rápida — com resultados em até três dias — que derrubou os custos com demurrage, taxa cobrada em dólar por atraso na liberação de cargas.
Do laboratório ao campo – e de volta
Hoje, a Intecso realiza mais de 1,2 mil tipos de análises e é única no país a oferecer testes que garantem o cumprimento dos exigentes protocolos internacionais de exportação em um só lugar. E mais: com financiamento da Finep (ligada ao MCTI), a empresa está mapeando a identidade dos grãos brasileiros. Um verdadeiro “censo do agro”, com rastreabilidade isotópica que identifica até se o milho veio da Amazônia ou do Cerrado — e, mais importante: se veio de áreas de desmatamento.
“Nosso objetivo é desenvolver um certificado verde, capaz de atestar que aquele grão foi produzido com responsabilidade ambiental”, explica Paula. Isso pode mudar totalmente o cenário da exportação brasileira, agregando ainda mais valor aos produtos nacionais.
Inovação made in Curitiba
Boa parte dos talentos da Intecso são formados nas universidades curitibanas. Muitos começam como bolsistas em projetos de pesquisa e extensão e permanecem na empresa. “Curitiba tem um ambiente propício à inovação. E tem gente qualificada para isso”, afirma a CEO.
Desde que entrou para o Tecnoparque em 2021, a Intecso multiplicou sua receita anual de R$ 9,6 milhões para R$ 34,6 milhões. A previsão para 2025 é ultrapassar os R$ 46 milhões e fechar o ano com 129 colaboradores.
A história da Intecso é mais que uma história de sucesso. É uma prova de que inovação, incentivo público e visão empreendedora podem transformar uma cidade — e um país inteiro.
Foto:: Isabella Mayer/SECOM