Nas últimas duas semanas, o espaço conhecido como Pedreira do Atuba passou a estar em evidência, com a discussão e apresentação de um projeto de transformação do local em um parque no município de Colombo. Entre as diversas ideias para serem implantadas no futuro equipamento público, estão o desenvolvimento de áreas de lazer e de esporte, como a escalada.
Um grupo de pesquisadores sugere que o parque também possa abrigar um geossítio, que apresentaria aos visitantes os aspectos geológicos das rochas existentes na pedreira. “Essa ideia é de várias pessoas. Nós nos somamos, desde pessoas da Sociedade Brasileira de Geologia; do grupo de pesquisa de geoconservação da UFPR; o colega Jean Vargas, que trabalha na iniciativa privada e tem trabalhado bastante a questão da geoconservação. É uma família inteira que está envolvida”, resume o geólogo Carlos Eduardo de Mesquita Barros, o Cadu, professor do Curso de Geologia da Universidade Federal do Paraná.
De acordo com o pesquisador, a singularidade das rochas da Pedreira do Atuba fazem com que a criação do geossítio seja importante. “O geossítio muitas vezes se distingue pelo conjunto de rochas, que nos traz uma informação específica. A presença de alguns fósseis, por exemplo. No caso da Pedreira do Atuba, tem o migmatito, que é uma rocha do tipo metamórfica (formada pela transformação de outras rochas em condições específicas de temperatura e pressão) que tem uma evolução bem complexa. Existem várias datações naquelas rochas da pedreira, e o conjunto de rochas que ocorrem ali e suas estruturas, permitem reconstituir essa evolução”, explica o professor Cadu, que ressalta que há pedras com idade de até 3 bilhões de anos no local. “Essas rochas, que são rochas duras que encontramos na Pedreira do Atuba, no Parque Tanguá, na Pedreira Paulo Leminski, são a base da bacia de Curitiba, que é bem nova para nós, tem em torno de 4 milhões de anos. É o que a gente chama de embasamento, que é constituído por essas rochas mais antigas. E na Pedreira do Atuba, temos essa característica particular, que são rochas que apresentam evidências de uma fusão parcial que ocorreu em profundidade”, detalhou.
Espalhando conhecimento
A criação de um geossítio, defendida pelos pesquisadores, é uma maneira de levar o conhecimento de uma área de estudo pouco difundida em ambiente escolar, mas de grande importância para a evolução da sociedade. “Fico imaginando uma criança, com seus nove ou dez anos, chegando na pedreira, já pensando no sítio geológico do Parque, e ela começa a olhar informações dos registros geológicos. Fico imaginando as sinapses que se desencadeiam no cérebro de uma criança ao ler esses números”, diz Cadu, em referência à extensa idade das rochas. “Isso mexe com o imaginário de uma criança, acho que tem um encadeamento mental bem interessante. E além de desenvolver esse maravilhamento, desenvolvemos a percepção da escala do tempo geológico na cabeça do público. Não é um exercício fácil e é interessante que isso também seja permitido ao público”, acrescentou.
O geólogo também reforçou a importância da geologia no desenvolvimento econômico e social, e daí, a necessidade de familiarizar a população a assuntos acerca deste tema. “Se pensarmos no desenvolvimento do país não podemos pensar nisso sem envolver a geologia, pela questão dos bens minerais, da água subterrânea, do petróleo, do gás natural e de outras áreas, como a nossa atividade na docência. A geologia, por conta de tudo isso, tem uma ligação muito forte com a soberania nacional. Eu diria que nós precisaríamos desenvolver mais na sociedade brasileira, nos estudantes do ensino fundamental, médio e mesmo do ensino superior, esse sentimento de soberania nacional e essa relação de posse que deveríamos ter em relação aos nossos recursos naturais”, opinou Cadu, em tom crítico, citando a privatização da Vale, por exemplo.
Por fim, na expectativa de que a sugestão seja levada adiante na criação do parque, o professor exalta a aliança da educação com o esporte. “Uma outra coisa que fiquei bem feliz é a questão do caráter disciplinar que esse parque vai ter. É sensacional, porque você vai ter um público que vai lá por um objetivo, que é numeroso, e além de ter feito uma atividade esportiva, vai sair de lá com essa informação geológica, para que não fique um local exclusivo da visitação de geólogos, geógrafos e pesquisadores”, encerrou.
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